sábado, 22 de novembro de 2008

Com decisão inédita sob Lula, Itamaraty manda duro recado diplomático a Correa

IURI DANTAS
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Ao convocar um embaixador brasileiro para consultas pela primeira vez desde o início do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, o chanceler Celso Amorim enviou um recado diplomático claro ao governo de Rafael Correa: o contencioso do Equador com a Odebrecht ultrapassou os limites técnicos ao se transformar em ameaça de calote ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), foi contaminado politicamente, e isso é inaceitável.

Na linguagem diplomática, chamar o embaixador para consultas é uma ação que demonstra grave insatisfação com o outro governo. A convocação é um ato mais forte do que convidar o embaixador equatoriano no Brasil para esclarecimentos.

Em março, por exemplo, o Itamaraty convidou o embaixador espanhol em Brasília para uma reunião. Grosso modo, é como se o Brasil quisesse saber a explicação oficial da Espanha sobre os brasileiros barrados no aeroporto em Madri.

A convocação agora indica que o Brasil vai adotar uma nova postura nas relações com o Equador. O embaixador Antonino Marques Porto receberá instruções diretamente do chanceler sobre como agir daqui em diante.

"A convocação é a ação de praxe para demonstrar o descontentamento, uma forma de expressar de modo respeitoso uma grave insatisfação", disse Virgílio Arraes, professor da Universidade de Brasília.

Dependendo da escalada do contencioso, o Itamaraty vai decidir se é o caso do embaixador voltar ou não a Quito. A convocação permanente do embaixador representa o primeiro passo para o rompimento de relações diplomáticas.

Segundo a Folha apurou, a convocação de Marques Porto foi uma resposta política às atitudes de Correa. O governo brasileiro até aceitava arbitragem entre a Odebrecht e Quito, mas o uso político da disputa por Correa foi determinante na resposta brasileira. Em Brasília, a ordem é interromper os contatos bilaterais em todos os temas e congelar os pedidos comerciais do Equador.